sábado, 25 de janeiro de 2014

E o Macarrão me Conquistou.

Aline experimentando e aprendendo muito no setor Macarrão em Ponta Grossa/PR.  
Acredito em destino. Acredito que as coisas estão pré programadas para acontecer a fim de tirarmos lições de cada situação e evoluir para melhor. Cabe a cada um de nós aceitar o que o destino impõe e aprender com os tombos e vitórias ou ir contra nossos desejos e instintos mais profundos e acabar insatisfeito e infeliz. Seguindo essa lógica, acredito que nada acontece por acaso. Ninguém aparece ou desaparece de nossas vidas à toa. Encontros não acontecem por obra de uma simples coincidência. Acredito que energias semelhantes se atraem e foi exatamente isso o que aconteceu comigo e um grupo de amigos no último final de semana.
Conheci o setor Macarrão, em Ponta Grossa/PR em 2011 em uma viagem de escalada. Naquela ocasião lembro que era bem difícil para mim até sair do chão para escalar. Definitivamente o Macarrão não é um setor campo-escola. Vias negativas de pura resistência no setor da frente. Vias longas e com cruxs bem técnicos no setor de trás. Um arenito lindo e macio. Um buraco no meio da pedra perfeito para bivacar, com direito a cama ergonômica, mesa para cozinhar e até uma suite para os casais sortudos aproveitarem a intimidade. 1 km do  Buraco do Padre, que é uma cachoeira alucinante perfeita para um banho com direito a hidromassagem. O que mais um escalador pode querer para um final-de-semana? Cabe mais sim!!! Show de luzes das estrelas e dos vagalumes, pôr-do-sol alaranjado de verão, nascer da lua cheia, vinho, boa comida, companhias na mesma sintonia que você e, com toda essa vibe, as inevitáveis CADENAS. Lugarzinho muito bom, fora da área de cobertura e perfeito para recarregar as energias para enfrentar a correria da babilônia. Sinto-me muito privilegiada por ter esse setor tão próximo do lugar onde eu moro e de poder desfrutar com uma boa frequência das lindas vias. Um estilo que eu não estava acostumada e que estou adorando. Muita cabeça e boa dose de motivação para enfrentar os braços tijolados e manter o foco na fluidez da escalada. E quem disse que não se usa perna na escalada negativa? Foi a parte que mais senti doer depois dos braços, hehe! Lindos movimentos, muito jogo de quadril, braços sempre esticados, respira, respira e, quando você menos espera, a última agarra está lá muito próxima. Um movimento a mais, click do mosquetão e oba! Sorrisão no rosto, gritos de comemorações embaixo: CADENA! Uma via a mais é uma via a menos. Bora partir pro próximo desafio. Sempre se surpreendendo, sempre se superando, sempre evoluindo!
Gabriel voando na via Até o Diabo Sua (8c). Cadena suada e bonita. Parabéns, guri!! Foto: Roniel Fonseca.
Arenito delícia! Via Espirra Veneno (6sup).
Bivaque 5 estrelas. Já imaginou passar uma noite nesse lugar?
Henrique e Letícia, parceiros da minha primeira vez no Macarrão em 2011.
Lê, grande amiga e escaladora super forte. Via Espirra Veneno (6sup). 
Tô adorando poder escalar mais contigo agora. Valeu!!
Pôr-do-sol na sacada. Momentos únicos que a escalada proporciona.
Malu, escaladora local super forte mostrando como se faz em alguma via que não sei o nome, mas que não deve ser moleza.
Essa é pra quem pensa que comida de acampamento se resume a miojo e suco em pó. Dá uma olhada no nosso banquete. Foto: Roniel Fonseca.
Oliver conferindo a cozinha do bivaque.
Brunão também escala via esportiva, hehehe! Muito bonito te ver escalando. Graduação no Anhangava e Marumbi dá nisso.
Muvuca básica na base das vias do setor da frente. E o chimarrão sempre presente pra dar aquele gás e não perder o costume!
Eliane e Henrique na cachoeira do Buraco do Padre. Meus queridos amigos lá do RS. Estou com muita saudade de vocês. 
Gurias no buraco.
Um pouco do setor de trás.
Oliver e Davi. Pensa em pessoas sérias, hehehe!
Eu me divertindo que nem criança nas vias negativas. Essa é a Granitinho (7a).
Pati na cadena da via El Corazon (7a). Sempre gostoso escalar com a mulherada. Foto: Roniel Fonseca.
Valeu pela paciência na seg, Aranha! Baita parceiro que me adotou em Curitiba.
Contemplação total.
Experimentando via nova. Surpresinha (6sup).
Pati, Gabriel e Roniel, super parcerias do último findi. Sem vocês escalar não teria graça nenhuma.
Muito obrigada aos antigos e novos amigos, mas principalmente aos amigos paranaenses que receberam tão bem essa gaúcha desgarrada. Sem vocês nada faria sentindo. E sem palavras pra Ponta Grossa. O setor Macarrão já tem um lugar reservado no meu coração. Mas o Paraná tem muita montanha. Bora desbravar esses picos que 2014 promete muito!




terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Impressões sobre Treinamento e Escalada Esportiva

Escalo há sete anos e, ao longo de todo esse tempo, nunca me dediquei ao treinamento de escalada esportiva. Tinha a ilusão que indo para rocha todos os finais de semana era o suficiente para evoluir. Cheguei a encadenar um 7a sem treino, mas depois de milhares de entradas e de decorar todos os movimentos e agarras da via. Porém ficou nisso e o máximo que eu conseguia era escalar uns quintos e sextos graus, os mesmos de sempre perto de onde eu morava no Rio Grande do Sul. Gostava (e ainda gosto muito) de escalar vias tradicionais. Consegui viajar e escalar vias muito legais nesse estilo, mas sempre passava o maior veneno nos cruxs e ficava com muita vontade de entrar em vias lindas, mas com passadas de 6sup, 7a expostas que eu sabia que não tinha currículo pra mandar. Outra coisa muito comum era sempre que eu começava a entrar em vias um pouco mais exigentes, apareciam dores nos dedos, ombros, joelhos. A última e bem séria foi na coluna, o que me rendeu quase um ano sem escalar direito. Hoje entendo que isso é consequência da falta de preparo do corpo para um esforço muito exigente que é escalar. Demorou mas finalmente eu entendi que o que me faltava era: TREINO.
Quando me mudei para Curitiba não tinha mais desculpa de que não havia lugar e parceria para treinar. O ginásio Campo Base fica perto de onde eu moro e tem uma estrutura incrível de treinamento. Porém não me atirei que nem uma doida a subir pelos boulders e a treinar blocadas no finger board. Como estava vindo de uma lesão séria, comecei escalando e desescalando os terceiros e quarto graus de top rope, pelo menos uma vez por semana, e pilates duas vezes por semana para fortalecer a musculatura que estava parada. Levei pelo menos dois meses para me sentir peparada a realizar um treino mais intensivo. Em agosto de 2013 comecei a treinar com o acompanhamento do Roger Mendes na Campo Base. A partir daí minha visão da escalada esportiva mudou completamente. Gostei muito do estilo de orientar do Roger. Aprendi com ele a me posicionar melhor, escalar rápido quando necessário, aproveitar os descansos, leitura de vias, foco mas, principalmente, aprendi a arte de escalar gastando o mínimo de energia. E essa é a grande sacada. 
O treino inicialmente consistia em adquirir preparo e aperfeiçoar a técnica. Terça e quinta de manhã eu ia pro ginásio (30 minutos de bicicleta pra aquecer) e treinava das 07:30 às 09:00. Uma vez por semana o treino era escalando travessias de boulder ou vias de top rope. E o outro dia não tinha nada de escalada, era só fazendo força no "cantinho da alegria". Esse treino consistia em barras, flexões, exercícios no TRX, abdominais, blocadas no finger e no campus board além de alguns exercícios com pesos. Todos os exercícios bem específicos para braços, ombros, costas e abdômen, as parte do corpo mais exigidas na escalada. Na segunda e na quarta de manhã eu fazia pilates pra fortalecer a musculatura antagonista da escalada. Sexta eu reservava pra descanso. Sábado e domingo ia pra rocha escalar. E tudo isso eu tinha que conciliar com pesquisa de mestrado, aula de inglês e tarefas domésticas porque moro sozinha. 
Nas primeiras semanas me senti extremamente cansada, dolorida e com muita fome. Foi necessário mudar meus hábitos alimentares e procurar uma alimentação mais saudável e funcional, que suprisse todas as necessidades do meu corpo. Dormir bem também é essencial para a recuperação e essa foi a parte mais difícil pra mim pois eu acordava muito cedo (06h) e não conseguia ir dormir igualmente cedo. Precisei de muita disciplina para coseguir ir dormir entre as 22 e 23h. Com o tempo comecei a colher os frutos do esforço. Comecei a escalar vias entre o sexto e o sétimo grau no ginásio e na rocha. Isso pra mim foi muito gratificante, mesmo sem mandar a maioia das vias, pois sempre considerei e ainda considero a escalada no Paraná mais dura do que qualquer outro lugar. Lembro que a primeira vez que viajei ao Paraná para escalar, tinham setores onde eu não conseguia sair do chão! Não é a toa que aqui nasceram uns dos escaladores mais fortes do Brasil.
Com a evolução resolvi me presentear com uma viagem de 10 dias para um dos maiores, se não o maior, e mais alucinante pico de escalada esportiva do Brasil: a Serra do Cipó em Minas Gerais. Não contarei os detalhes da viagem aqui, pois isso é assunto para um próximo post, mas posso adiantar que os resultados foram surpreendentes para mim. Mandei no on sight sextos e quintos, um 7a in flash e saiu um 7b na segunda entrada, estou besta até agora. Antes de ir para o Cipó, passei 10 dias no Rio Grande do Sul e aproveitei para entrar nuns projetos de escalada esportiva e tradicional que eu tinha por lá. Sucesso total!
Treinamento é essencial na busca de resultados na escalada. O esforço pode parecer grande mas os resultados são muito compensatórios. Um número ou letra que aumenta na graduação pode ser motivador mas não é nada comparado com a eufórica sensação de sentir seu corpo forte e com saúde, realizando movimentos bonitos e precisos. Os limites  físicos e psicológicos sendo superados. O trabalho mental de decifrar posições e força a ser aplicada. Uma total interação com a rocha e com toda a natureza ao redor. Foi esse último motivo que me atraiu na escalada e que me mantém nela até hoje. Portanto, bora treinar que 2014 começou bem e promete muito! Kamon!!! A la muerte!!!