Mais um lugar incrível para a lista, cumes inesquecíveis, companhias maravilhosas e vias de escalada de puro desfrute e também de testar os neurônios. Assim foram meus dez dias na cidade maravilhosa do Rio de Janeiro. Fazia tempo que eu estava devendo uma visita ao centro de escalada mais famoso do Brasil. Até os estrangeiros me cobravam isso! Para não perder tempo, garanti minhas passagens em fevereiro, logo que voltei da Patagônia. É sempre assim para os fissurados que têm a escalada correndo nas veias: a gente volta de uma viagem planejando a próxima.
Sobre a parceria desta vez, melhor impossível: minha amiga Luísa Diederichs. Começamos a escalar juntas há cinco anos e vou te contar, não sei dizer quem era a mais fissurada em escalada das duas. A Lu virou mamãe e a sua disponibilidade para escalada e viagens diminuíram. Mas lá no Rio não demorou para o velho entrosamento e companheirismo voltar. Revesamos guiadas justas, compartilhamos medos, alegrias e decisões e o mais importante: nos divertimos muito nas nossas escaladas.
Antes de viajar havíamos feito uma lista de objetivos, digo vias a serem escaladas. Conseguimos cumprir algumas metas, outras não foram possíveis de cumprir e algumas surgiram do imprevisto como presentes.
Então, segue nas fotos um resumo do que aprontamos. : )
Sábado, dia 21, depois de conhecer e curtir um pouco a praia de Copacabana, recebo uma mensagem da Monica Schiavon dizendo que estava escalando na parede dos ácidos. Bora lá! Separamos nosso equipo de escalada esportiva e pulamos no primeiro ônibus para a Urca. Descemos no ponto e agora? Pão de açúcar de um lado e uma porção de morros pelos outros lados. Onde fica a parede dos ácidos? Como chegamos lá? No meio dessa confusão vi um casal com mochilas e uma corda. Grudamos neles! Para nossa sorte e coincidência o Vicente e a Luciana são gaúchos, escaladores e suuuper simpáticos. Nos ofereceram o guia da Urca (que mudou a nossa vida) e nos explicaram o nome de cada morro e como chegar nas vias. Como eles estavam indo para a Babilônia e eu não conseguia mais entrar em contato com a Monica, fomos acompanhá-los. E na base das vias da Babilônia, quem encontro? A Luciana Maes, que estava me passando betas pelo facebook. Depois de muita conversa e entusiasmadas com tantas informações de vias legais que a galera nos passava, já eram umas 16 horas quando resolvemos entrar na via IV Centenário, a primeira via conquistada no Morro da Babilônia, em 1965.
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Tanta pedra. O difícil é escolher onde escalar! |
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Seis aninhos e já guiando via. Que privilégio em ter pai maluco/escalador e morar no Rio de Janeiro! |
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1ª enfiada da IV Centenário, um III bem tranquilo para nos aclimatarmos com as escaladas no Rio. Apesar de fácil , passei sufoco com a minha sapatilha esportiva apertada, costuras curtas e a Lu sem capacete, afinal íamos para os ácidos e acabamos entrando numa via tradicional.
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2ª enfiada da IV Centenário, 4º, vamos aumentando aos poucos a graduação. |
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P2 da IV Centenário. Felizes pela primeira escalada no Rio. E a cidade nos recepciona com um belo pôr-do-sol e vista privilegiada. |
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No sábado à noite devoramos o guia da Urca e elegemos nossa segunda via na Babilônia: Vilma Arnould V, E2, 185 metros. Na foto a Lu guiando a primeira enfiada. |
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O que a primeira enfiada teve de fácil a 2ª e 3ª da Vilma Arnoud teve de difícil. Fui apresentada às famosas aderências do Rio na 2ª e a Lu guiou com bravura o crux de V, bem vertical com agarras pequenas da 3ª. Sufoco mas foi de boa. O problema era o calor que já tava fritando os miolos na P3 da foto. |
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O calor tava quase insuportável mas não pude deixar de desfrutar a 4ª enfiada de travessia. Apesar do sufoco do trecho sem agarras, valeu pelo visual e encerramos nossa escalada na Vilma Arnoud. 140 metros de via, faltaram duas enfiadas para o cume, mas o calor era tanto que já tinha feito bolhas nas minhas mãos. Descemos felizes de ter conseguido passar pelo filé da via. |
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Refresco para os pés e para a mente nas calmas águas da Praia Vermelha. |
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Este é o Morro da Babilônia. Muitas vias legais, uma ao lado da outra. O problema é que o morro se encontra voltado para o norte, então é sol o dia inteiro. |
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Na segunda decretamos dia de descanso e fomos curtir alguns pontos turísticos do Rio com a familía da Lu. Na foto, a bela praia da Barra da Tijuca. |
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Praia de Ipanema e o Arpoador ao fundo. |
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Praia de Copacabana. Super papai Otávio que cuidou da Sophie enquanto as duas loucas escalavam. |
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Na segunda à noite estávamos na dúvida entre duas vias no Pão de Açúcar: Italianos ou Chaminé Stop. Por indicação de outros escaladores, ficamos com a Italianos, Vsup, E1, 90 metros. Na foto, a Lu na trilha de aproximação à face oeste do Pão de Açúcar. |
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Acordamos cedinho para essa escalada. Chegamos e o morro estava envolto por nuvens, o que dava um ar sinistro à base. Demoramos um pouco para começar porque a Italianos tem muitas variantes no começo e foi complicado encontrarmos o caminho mais fácil. Na foto, eu na primeira enfiada. Momentos de susto com os esticões do início e contemplação com a beleza estética da via. Lindíssima essa primeira enfiada! |
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Eu na P1 da Italianos, feliz e chamando a Lu. Não temos fotos da 2ª enfiada, que a Lu guiou com maestria. Escalada exigente, vertical o tempo inteiro e agarrinhas muito pequenas. Tirei o chapéu pra minha parceira. |
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E quando achávamos que as panturrilhas iriam estourar, surge uma 3ª enfiada, de 3º grau, cheia de agarras grandes e bons lugares para descansar os pés. Subi correndo e chamei a Lu pro abraço. Fomos as únicas pessoas a escalar a Italianos nessa terça-feira, dia 24 de julho. |
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A grutinha do final da Italianos é um luxo. Dá até pra tirar um cochilo na sombra. Ficamos mais de uma hora aí, almoçando, tirando fotos e curtindo o visual. Na foto, minha mão com bolha aberta da escalada na Babilônia e mais alguns machucados. |
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Que visu, hein! |
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Na final da Italianos, se você quer chegar ao cume do Pão de Açúcar, existem duas opções mais acessíveis: uma escalada de IV grau pela via Secundo ou seguir pela via de cabos de aço CEPI. Optamos pela CEPI por ser mais rápida e para fugir do sol que castigava a Secundo. Apesar de aparentemente mais fácil, foi sinistro seguir pela CEPI e confiar nos cabos de aço, sem contar nos braços que ficaram bombados. |
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Cume, finalmente. Muito calor e cansaço. |
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Realizadas. |
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Valeu, parceira! |
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Luxo: cerveja no cume para comemorar. |
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Vista da bela face oeste do Pão de Açúcar, onde escalamos. A descida foi fácil e merecida. Bondinho gratuito até a Praia Vermelha. |
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À noite a comemoração foi com pizza e cerveja com a Luísa e família e, mais tarde, samba de raiz na Lapa com a Monica Schiavon e Lucy Garrote. Na foto, mais um ponto turístico: os arcos da Lapa. |
Na quarta-feira acordei mal. No início achei que fosse ressaca das comemorações do dia anterior, mas depois a febre apareceu e tive certeza: a combinação de sol mais ar condicionado polar em todos os lugares da cidade detonou com a minha sinusite. Depois foi a sinusite que me detonou com 3 dias de febre. O combinado era irmos à Teresópolis na quarta-feira à tarde e escalarmos o Dedo-de-Deus na quinta-feira. Não foi desta vez.
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No segundo dia com febre, não aguentando mais ficar dentro do apartamento, engoli uma dipirona e fui fazer passeios mais lights, longe do sol. Na foto eu e minha colega de faculdade Fernanda Silva no Jardim Botânico. Saudade dessa guria que eu não via desde a nossa formatura, há uns três anos. |
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Também aproveitei para conhecer o Palácio do Catete ou Museu da República. Fiquei umas 2 horas aí dentro desfrutando os três andares de exposições e aproveitei para saber um pouco mais da história da política do meu país. |
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No sábado a febre finalmente deu uma trégua e acordamos cedinho pra escalar. Escolhemos uma via fácil e totalmente na sombra para eu recomeçar depois da peste. Na foto eu no caminho da face sul do Pão de Açúcar, na pista Cláudio Coutinho. |
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Quem vai de segundo tem que escalar de mochila. Justo, hehe! Primeira enfiada da via Coringa, III grau, E1, 100 metros. |
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E no meio de tosse e cansaço da febre dos dias anteriores fui seguindo na segunda enfiada. Terceiro grau com direito a lances de aderência e até uma barriguinha exposta. Via danada de bonita! |
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O visual da Coringa é realmente incrível. |
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Final: mais uma via! |
Enquanto escalávamos a Coringa havia uma dupla na via Às de Espada, ao lado esquerdo que nos chamou muito a atenção. O guia não parava de cantar e ele tinha um sotaque do nordeste. Na trilha de descida do Pão de Açúcar conhecemos o tal "cantor" e ganhamos um novo e querido amigo: Carlos. O Carlos nos apresentou para sua parceira, que o estava esperando na Pedra do Urubu: a Mariana Sheimberg. Por coincidência nós duas já havíamos nos conhecido no último verão no Frey, Argentina. Que mundo pequeno!
Ficamos os quatro conversando o maior tempão, sobre escalada, lógico. O Carlos e a Mariana queriam nos mostrar muitas vias. Falaram em especial da Passagem dos Olhos na Pedra da Gávea e do Paredão K2 no Corcovado. Trocamos telefones e combinamos escalar a Passagem dos Olhos no domingo e a K2 na segunda, para fechar com chave de ouro a nossa viagem.
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No final o Carlos teve um compromisso e não conseguimos escalar na Pedra da Gávea. Foto: vista da Pedra da Gávea do ônibus. Ficamos devendo essa também! |
Então, resolvemos escalar domingo no Morro do Cantagalo, que fica pertinho de onde nós estávamos. Chegamos lá e não nos pilhamos com o ambiente totalmente urbanizado da área e nem com o sol que já castigava a parede às 8 horas da manhã. Voltamos, dormimos e o Otávio saiu para surfar. Finalmente, ele estava merecendo, hehe!
À tarde, quando o Otávio voltou, saímos para escalar na Urca novamente, mas o calor tava insuportável. O máximo que fizemos foi uma entrada na via Lindáurea, na Babilônia.
Segunda, último dia de escalada. Sai para almoçar com a minha colega de faculdade Camila, que eu não via também há muito tempo, e o Carlos nos envia mensagem: "escalada no Corcovado confirmada". Partimos às 14:30 para lá, horário que começa a pegar sombra na parede. Nos encontramos com o Carlos, Mariana e ganhamos mais uma amiga: a paulista Gabriella Lundholm Subimos bastante o Morro do Corcovado de carro, deixamos ele estacionado e fizemos mais uma meia hora de caminhada. Chegamos na base da via K2 V, E2 (que parece E3), 150 metros, que já é alucinante, pois está a mais de 500 metros do chão. O Carlos e as meninas seguiram na frente formando uma cordada e a Lu e eu seguimos atrás formando outra cordada.
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Lu e eu nos preparando na base da K2. A Lu guiou a primeira enfiada da via, que segue por um lindo diedro de oposição. Obrigada, amiga, por ter guiado essa enfiada! Odeio oposições, hehe! |
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A segunda enfiada ficou por minha conta. Cheia de surpresas, esticões e o famoso lance do crucifixo, que eu só fui descobrir depois de passar no sufoco. Foto: minha chegada na P2 em meio a nuvens. Créditos: Gabi Lundholm. |
Na saída da terceira enfiada está o famoso lance do palavrão, que também só fomos descobrir depois. É uma escalada novamente num diedro de oposição de uns seis metros, detalhe: a única proteção era a do Cristo que nos olhava lá de cima. Dá pra proteger em móvel, mas como não levamos peças, a Lu respirou fundo e tocou pra cima rapidinho, mandando super bem. A última enfiada era uma rampa curta e cheia de agarras, a mais fácil de todas, mas que o nosso amigo Carlos fez o favor de jogar uma corda de cima, pois já era noite e os sustos tinham sido grandes. Daí, foi só escalar rapinho e correr pro abraço.
Depois de fazer uma trilha curta no meio do mato, vimos uma clarão no meio da neblina: era o Cristo nos recebendo de braços abertos. Linda a cena. Fizemos várias fotos e aproveitamos o cume do Corcovado que, fora do comum, não tinha nenhum turista, só nós, loucos escaladores. Foi mais um cume incrível e muito bem acompanhada.
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Não teria melhor maneira de fechar a viagem no Rio com uma imagem dessas, no maior cartão postal da cidade. |