domingo, 26 de fevereiro de 2012

Frey - Argentina - 2012

Então, tentando reorganizar a vida e começar o ano. Sim!! Finalzinho de fevereiro. O ano, pra mim, só começa aí. Já comecei a trabalhar, estou organizando meus horários e tempo livre para poder treinar e me dedicar aos projetos de escalada desse ano (sim, depois das emoções que passei esse verão na patagônia, vi que é importante preparar melhor o corpo pra não contar só com a sorte como eu fiz) e finalmente tive tempo de escrever algumas linhas aqui no blog que estava abandonado há mais de dois meses. Realmente o ano começou, até a chuva fininha e fria que assombra a vida dos montanhistas gaúchos nos finais de semana começou a dar as caras e é por isso que tive tempo de estar aqui escrevendo, hehe!
Bom, difícil é saber por onde começar a contar tudo o que aconteceu nesse verão. Experiências novas, lugares novos, gente diferente e muitas emoções fortes. Vamos começar pelo começo, não é?
Dia 27 de dezembro de 2011, dia da minha prova de direção. Tinha espectativas de ser aprovada? NÃO. Fui aprovada? SIM! Ufa, que alívio! Os cinco dias sacrificados das minhas sagradas férias por causa da data dessa prova não foram em vão. Agora posso dividir a direção com os amigos nas viagens, pensar em comprar meu Gol caixinha branco e viajar ainda mais! A prova terminou às 12h, às 17h eu já estava na rodoviária de Porto Alegre com o Seco pra pegarmos o ônibus rumo à Bariloche.
Depois de dois dias de viagem, passamos rapidamente pela cidade para fazermos algumas compras e começamos a trilha para o refúgio Frey no final da tarde do dia 30. Minha mochila esse ano estava mais pesada, acho que levei um pouco mais de equipamento e comida, afinal esse ano meu parceiro era o Seco que, ao contrário do Celso (meu parceiro no ano passado), não se preocupa muito com o peso das comidas e não gosta que falte equipamento. Eu não conseguia levantar minha mochila do chão sozinha, mas se alguém (Seco) a colocasse nas minhas costas estava tranquilo, afinal eram só umas cinco horinhas de caminhada. Chegando na parte da trilha que contorna o rio, não deu outra, parei e quem disse que eu conseguia continuar. Decidimos bivacar ali mesmo e continuar a trilha na manhã seguinte, esse foi o pior erro da viagem...No outro dia era uma tortura colocar a mochila pois os quadris estavam em frangalhos. Tenho umas marquinhas da mochila nos quadris até hoje.

Bivac cinco estrelas!
Chegamos e o refúgio estava em ritmo de festa. Assado, muita gente, música. Festejamos mas não nos jogamos de cabeça pois o próximo dia seria de climb e o tempo estava ótimo.

Comemorando a chegada de 2012 com os amigos Mônica, Tiago e Bruno.
Primeiro dia de escalada. Eu comecei abrindo os trabalhos pra não entrar na neura do medinho de guiar em móvel. Escalamos uma fendinha fácil no setor Yan Pipol e depois fomos pro Diedro e Fenda de Jim. O diedro ficou por minha conta guiar e, lógico, tomando muitos venenos da falta de costume com os móveis, mas curtindo muito e aprendendo. Esse era o objetivo.

Começando os trabalhos.

Diedro de Jim.
O tempo estava realmente bom, mas muito sol e calor pro meu gosto, mas nada de neve, frio, vento. Conseguimos escalar mais vias na Agulhas Frey, Abuelo, M2, Pitufresas e Principal. Ficamos devendo a agulha Campanille porque o tempo deu uma virada nos últimos dias. Na principal foi engraçado porque entramos na via Clemenzo e acabamos nos perdendo e saindo na via Normal. Agora fica a obrigação de voltar e fazer direitinho cada uma das vias, não cada uma pela metade como fizemos, hehe.

Via Normal na agulha Abuelo.

Cume do Abuelo.

Base da via Clemenzo na agulha Principal.

Cume da Principal.

Início da via ñaca ñaca, crunch crunch na agulha Abuelo.

Final da via ñaca ñaca, crunch crunch na agulha Abuelo

Esses discos voadores são sinal de mal tempo na patagônia.

Tá aí o mal tempo. Vento, chuva, neve e frio. Mas bem que eu fiquei feliz com essa neve!
O saldo no Frey foi bem positivo. Tinhamos 10 dias pra escalar, pegamos apenas 3 dias de tempo ruim e conseguimos escalar umas 10 vias. Consegui atingir meu objetivo de me familiarizar com as vias em móvel, sempre passando perrengue mas não adianta, escalar em móvel exige muito mais comprometimento, conhecimento e isso acaba desgastando. Eu me sentia tão cansada ou até mais guiando um V em móvel do que malhando um VII com proteções fixas. O Seco e eu conseguimos entrar em um ritmo legal de caminhadas. Estávamos fazendo as trilhas em tempos bons e sem cansar muito, mesmo sem ter treinado nada de aeróbico durante o ano. Agora faltava decidir: qual seria nosso próximo destino? Cochamó, Los Arenales ou El Chaltén? Ai, que dúvida cruel. Cochamó já conhecíamos e estávamos com medo de ficar somente dentro da barraca pegando chuva nos poucos dias que tínhamos, Los Arenales o Seco conhecia e escaladores nos contaram que estava muito quente nessa temporada. Ficamos com El Chaltén, que nenhum de nós dois conhecia, ficava mais ao sul, portanto mais friozinho, e tinha muitas opções de escalada na cidade. Escalar uma das famigeradas agulhas? Nem passava pelas nossas cabeças. Não tínhamos equipamento e nem experiência em gelo e neve e tínhamos apenas 12 dias de estada. Seria muita sorte pegarmos uma janela de tempo bom nesse curto espaço de tempo. Pois é, mas a sorte é o que mais ajuda os motivados e as "personas de buena onda".   : )